segunda-feira, 17 de maio de 2010

Poema ao Filho “Pavão da Gaita”
(Cecílio Barros)


Ao solo numa esteira adormecido
Vê-se um ébrio infeliz ali deitado
Vagando pelas ruas maltrapilho
E talvez pela família desprezado


Eu choro e sinto de lhe ver assim
Cabelos grandes, barba até o peito
Jogado a rua em moita de capim
A terra fria é seu próprio leito


Ó Deus, tenha compaixão
Deste infeliz e desta triste sina
Dê-lhe o amor, dê-lhe a luz divina
Se for teu filho, considere irmão.


CECÍLIO BARROS PESSOA nasceu em 30 de outubro de 1902 em Arraial do Cabo, filho de João Barros Pessoa e Ana Leopoldina Pessoa. Foi casado com Possidônia Figueiredo Pessoa com quem teve onze filhos dos quais quatro estão vivos: Mires Barros Pessoa, o mais velho, Ana Barros Sameiro, Fernando Barros Pessoa Sobrinho, carinhosamente e popularmente conhecido como “Pavão da Gaita” e Palmira Barros Cordeiro. Cecílio Barros trabalhou a maior parte de sua vida “na pesca”; por pouco tempo, na Companhia Nacional de Álcalis, emprego que conseguira por intermédio do Professor e Antropólogo Eraldo Lopes, que era pesquisador do Museu Nacional e que tinha pelo poeta grande estima, chamava-o de “Dr. Poeta". Aos doze anos a poesia aflorou em sua mente, quando teria recebido uma “mensagem vinda de cima”, confissão que fizera a seu filho Mires Barros Pessoa com quem tinha relações muito próximas. Daí por diante não parou mais de criar suas poesias. Segundo relato de Mires, teria feito cerca de mais de 800 poesias, todas “de memória” e recitava-as a qualquer momento. Foi o grande responsável por documentar, através da poesia mnemônica, toda uma época da vida de Arraial do Cabo, narrando seus costumes, suas festas, os casos engraçados, os naufrágios de embarcações, morte, casamentos, os elementos religiosos, lendas e folclore, contribuindo, sobremaneira, para determinar o tipo de relação humana existente no Arraial dos anos 20 até os anos 70 do século passado. Tudo era motivo para que Cecílio fizesse “um mote”, “uma décima” ou uma “redondilha”. Além disso, é importante salientar que, em suas poesias, Cecílio colocava em evidência um elemento essencial da cultura do povo cabista, isto é, a sua linguagem, deixando patente a marca de um vocabulário peculiar a uma comunidade que viveu por muito tempo no isolamento e que conservava, por força da tradição oral, uma estrutura morfológica e fonológica no seu modo de expressar. Segundo depoimento do Senhor Joaquim “de Gorgulho”, o poeta se tornou uma grande referência para antropólogos, pesquisadores do Museu Nacional que vinham a Arraial do Cabo nos anos 60, para a realização de pesquisas, sob a coordenação da Professora Heloísa Alberto Torres. Os primeiros contatos eram feitos com Cecílio Barros, principal alvo daquelas pesquisas, uma vez que este poeta trazia em sua bagagem cultural toda uma tradição antropológica secular. Daí sua grande contribuição a outros campos do saber humano. Grande parte de suas poesias se perdeu e, se algumas tantas ainda sobrevivem, necessário é que se cuide quanto à fidelidade da fonte pesquisada. Cecílio Barros Pessoa faleceu no dia 21 de fevereiro de 1981, numa terça-feira de carnaval, aos 79 anos.


João Moreno

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